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Genocídio em Gaza

A fome não é passageira

A fome fica agarrada na parede do estômago com tanta força que nem as curvas mais rápidas das estradas mais velozes podem fazê-la cair fora dali. A fome tonteia o forte homem com tamanha precisão que suas pernas se dobram nos joelhos quebrados pelo vento da agonia. Um mundo inteiro escurece quando a fome bate à porta querendo entrar de qualquer jeito mas não deseja ser indelicada a ponto de arrombar a fechadura. Ela chega rápido, anda todo dia, toda hora, todo segundo, jamais se fazendo ausente. A fome seca os lábios; desnutre a alma. Olha aquela criança ali embaixo da marquise, sentada na calçada, comendo com os olhos os comensais do restaurante cheio de figuras de fino trato. Não fino tato. A criança com fome é o substrato da humana miséria humana que se repete por séculos e séculos no planeta cercado de presunçosas sociedades auto idolatradas como inteligentes por seres civilizados. Pois sim! A mulher, mãe da criança com fome, sentada na calçada, de saia enrolada e máscara na boca, pede a todos, pelo amor de deus, uma ajuda quem puder, sem força, sem voz, disputando com microfones, motores e fones, a atenção dos bípedes. A calçada é larga e o braço é curto, a mão pequena, e os passantes da multidão conseguem, com o apressar do passo, passar incólume pelo ato insano. A insanidade anda por toda parte, em inúmeros círculos, com as portas abertas permitindo o acesso irrestrito de pessoas de todas as classes. Seria possível uma super explosão de bondade humana que transformasse todo o planeta Terra no maravilhoso planeta Paz? Duvidas!
Crianças, mães, mulheres, homens, moços, velhos se servem com sua dor pela cidade dolorosa na tentativa de outro dia além do dia de hoje que quando começa já se torna longo e quando termina já passou tanto tempo que não dá pra lembrar como foi o começo. Não há era uma vez. Felizes os bens alimentados. Eles dizem: a vida passa rápido.

Sociedade civil grita: Acorda MP!

Quinta-feira (28), às 14h, cidadãs e cidadãos da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, protestam na sede do Ministério Público. Microfone aberto, cartazes no chão e olhos revoltados estão ali gritando por milhares de moradores que, constantemente, tem seus Direitos Constitucionais renegados pelo Estado. Operações policiais repetem a dinâmica de guerra, cujo inimigo deve ser eliminado pela artilharia com a ocupação do território. A guerra às drogas disseminada por toda América Latina pelos EUA tem como sempre aumentado o poder bélico das polícias mas em nada tem avançado em politicas sociais estruturantes para que a sociedade possa ser aprimorada no sentido do bem-estar comum. Os órgãos de repressão do Estado funcionam a contento quando usam seus mecanismos de extermínio da população jovem, pobre, negra, desempregada, sem perspectiva de que qualquer mudança possa acontecer por parte do mundo exteriror ao que vivem. Não há em nenhum momento a servidão voluntária dos servidores públicos. A Contituição Federal garante direitos que são negados – por mais incrível que isso pareça – pelos garantidores dos direitos. A quem serve o Ministério Público?

É preciso construir uma outra ideia, conceito e ação de segurança pública no Brasil. Uma segurança que veja a Vida como o bem maior de toda sociedade, onde as crianças, jovens, adultos e idosos sejam defendidos e respeitados e cuidados plenamente. É humanamente inviável uma política pública de segurança direcionada ao conflito. Não há possibildade de vitória numa guerra que a sociedade não deseja nem apoia porque o inimigo acaba sendo todos contra o poder público. Isso, por si só, quebra o paradigma do que se escreve sobre povo e poder, cuja violência estatal passa a ser a ordem de controle social.

A carta do Fórum Popular de Segurança Pública do Rio de Janeiro diz claramente: “Exigimos que o MP cumpra seu papel constitucional de exercer o controle das polícias e que construa este processo com a participação de movimentos e organizações socias.” Parece um pedido bastante óbvio num ambiente democrático de direito. Igualmente óbvio é constatar que qualquer estado em qualquer momento histórico que gaste mais do orçamento público com despesas de segurança pública em detrimento à educação, saúde, habitação e transporte da população está, peremptoriamente, condenado ao fracasso enquanto sociedade civilizadada. Por mais que uma classe social esteja apoiando tal forma de governar, o resultado geral será uma sociedade sempre fragmentada, sem coesão social ou perspectiva de paz por todos os territórios da cidade. “A vida humana como centralidade da política de segurança pública”, esse é o grito dado por Alan Brum, do Instituto Raízes em Movimento, morador do Complexo do Alemão, território formado por 13 favelas e uma população estimada em mais de 100 mil moradores.

Em memória das crianças com seus olhos e sorrisos estampados nas fotos colocadas no piso de entrada do prédio e para que o órgão faça parte da memória nacional como um ente respeitável, forte e garantidor dos direitos constitucionais do povo brasileiro, gritaram e gritam e gritarão: Acorda MP!

(O Rio continua lindo) ou (Rio, cuspe, mijo, fezes)

Um dia desse, Ton Etto saiu pelas ruas do Rio procurando sua namorada perdida depois que a ligação do celular caiu, foi interrompida, perdeu o sinal. Depois de 300 tentativas, ele pulou da sua poltrona Sergio Rodrigues para a rua com os olhos esbugalhados de medo. Dizer que foi pra rua é meio esquisito porque os pés calçados nos italianos novos saíram do brilhante piso de peroba – ah! as perobas dos campos da Mata Atlântica agora jazem cerradas, polidas e esticadas nas salas da Vieira Souto – e foram direto para o tapete do carro. Literalmente, Ton não havia colocado os pés na rua, no chão da cidade feito o trabalhador que pisa o chão da fábrica, o vaqueiro que caminha no chão do curral, a trabalhadora doméstica que pisa o chão da rua de terra batida. Sr. Etto não tinha o chão aos seus pés, pensou a nuvem que corria pelo leste. Assim vendo, lá vai o homem rodar a cidade na procura por sua princesinha amada idolatrada salve salve. Ele andou pelos batelocais da galera, onde os habitués, os locais, os crias tinham  acesso amplo, irrestrito e tudo mais. Sou Sul, pensou o agoniado homem solitário. Agonia não olha a cara nem o coração, nem o chinelo nem o cartão. Pode visitar qualquer um, basta estar vivo. Mas nada da fofinha querida além de ilusões e ilusões perdidas no ar condicionado do automóvel voador.

Lá vai o colega Ton e nada dela, a deusa, aquele pitéu, um quitute, manjar dos deuses. Flanou pelo Arpex, correu pelo 12, saiu na Elisabeth, desceu a Barão, beliscou pelo Satyricon mas nada da danada da figura querida. Oh vida! Por que faltei tantas aulas? Por que não dei mais ouvidos aos meus mestres? As vezes, ele a chamava de Alma; outras vezes, Maravilhosa.

Pois é! O cabra estava encalacrado com a disputa pelo tempo que passava minando o espírito e o corpo, enrugando a testa, corrompendo o coração. Será que ela foi comer empadinhas e se engasgou com o camarão? Sabe como é: camarão que dorme na praia a maré leva. Será que ela foi embora…

Ton Etto não desanimou e pediu ajuda ao primeiro que encontrou para procurar a digníssima. O man disse que podia sim mas tinham de bater pernas pela rua. Não tinha jeito não, seu moço. Ton concordou e rapidamente desceu do carro, trocou o casaco, colocou um boné, pensou na muié e saiu pelas ondas da cidade. Rodaram por Copa. Vão eles pelo espumeiro da praia procurando pistas da danada desaparecida. Já é de manhã e cruzam com uns 200 cachorros brincando na areia antes de encontrarem Clarice, sentada esperando os dois lá no seu cantinho com o seu cão. Caminhar até lá pra Ton foi punk. A careca sentiu, as pernas sentiram, a coluna sentiu o peso da barriga macia. Água de coco pra hidratar porque temos mais pela frente, sussurra ele ao Sancho, amigo camarada dessas horas ingratas. Solve et coagula. Pulou num assombro o Sir Ton Etto ao jurar que a estátua tinha soprado essas palavras em seu ouvido. Juro, juro, juro. Jurou de pés juntos, olhando pro céu e com o boné à mão.

Vamos que vamos, amigo. Vamos sair daqui. E saíram pela areia linda até Ton, já descalçado dos italianos, pisar com o pé direto num cocozão de cachorro. Plast! As fezes cobriram os dedos e saíram por cima da unha do dedão. Aquela massa marrom cheia de uns pedaços de coisas estranhas pintou os brancos pés do homem. A sua sorte, diga-se de passagem, é que as moscas varejeiras verde-azuis levantaram voo rapidinho. Putz! Vai homem lavar logo essa porcaria toda no mar que quebra na praia. Vai que não tá bonito. Olha aí as moscas estão zumbido atrás da comida delas. Que sorte que temos toda essa água na cidade, sorriu quieto o Etto. Lavou os dedos mas os olhos continuariam por muito tempo sujo com aquela meleca gosmenta canina. Quando ele se virou, saindo dos beijos das ondas, com os pés brancos, veio umas sacolas de plástico esquisitas grudar na canela. Saco de lixo, de pó de café e um daqueles absorventes higiênicos grandão. Este foi mais difícil de arrancar porque era pesado, tinha muita água nele e os dois homens bobeavam pra segurar a peça. Maré vem, maré vai, e nada do troço sair. Sorte de Ton que sua perna era careca, nem um fiapo de cabelo, ele raspava tudo, depilação importada, coisa chiquérrima. Foi! Gritou ele quando o pedaço do absorvente deixou seu corpo. Ufa! Viva! Consegui. Vamos sair daqui. Os dois falaram ao mesmo tempo. Harmonia total.

Então, sem pensar mais no trampo da praia, resolveram seguir pela Princesa Isabel em busca da famosa namorada. Foram pro RioSul à pé mesmo. Ton já se sentia pleno caminhante da urbe. Um verdadeiro pedestre. Daqueles que usam a faixa e ajudam os idosos a pularem os buracos das calçadas. Atravessaram o túnel, quando chegaram ao RioSul algo estranho aconteceu. Ton viu, ou ao menos achou que viu, a desaparecida do outro lado da rua. Só podia ser ela. Correram pra passagem de pedestres sem aviso do que encontrariam. Pararam logo na entrada. Havia protocolos para passarem por ali. Tinha de respirar fundo e prender a respiração até sair do outro lado ou tampar as narinas com a camisa ou resgatar as velha máscaras corona. Foram com os pulmões cheios pelo caminho fétido de tanto mijo, xixi, urina e tudo mais. Tinha fezes, não muito, algumas espalhadas pelos cantos que davam pra vê de longe, algumas duras, outras moles, bem moles, parecidas com aquelas de diarreia brava. Eram essas as armadilhas que não se podia pisar nunca. Aguentaram bem o caminho com os aromas humanos. Saíram do túnel dos cheiros pra avistar um vazio infinito. Nada da amada. O homem já começava a ter vertigens, pedindo ajuda aos céus, clamando pela intervenção divina. O talentoso Ton Etto desmoronou da sua bacana vida. Nada teria mais valor nem preço naquele mundo real da cidade encantada sem a complexa presença dela. Minha gata!, suspirou no vácuo.

Tiveram uma ideia. Uma tempestade passou pela cabeças dos dois sujeitos perdidos numa manhã fétida. Partiram pra Central. Ali sim seria a última cena das buscas pela desaparecida. Pularam num amarelinho. Pediram pressa ao motorista que respondeu pisando no pedal sem frear um instante sequer. Foi que foi pelo Aterro, cruzou por dentro, pela Lapa – sabe como é! – Cruz Vermelha e pelas cotias do Campo de Santana e, num breque, Central. Tá legal, doutor! Ton passou o lobo guará. Pularam correndo pela ruas da estação atrás do sonho de cabelos dourados, mente sã, sorriso bonito, olhos sapecas. Ton recordou que o celular dela tinha marcado essa localização por algum motivo que ele desconhecia. Tinha de encontrar alguma pista. Saíram pra lá e pra cá pulando poças de mijo, mendigos e trapaças. As mulheres e os homens em sua multidão nem percebiam aqueles dois quando seguiam pros quatro cantos da cidade. Pressa. Tou com pressa. Sai da frente que atrás vem mais e mais e mais gente.

Sir Etto tinha uma personalidade especial construída com muita pesquisa de ponta. Ele ativou a função Inteligência Artificial (AI in english) no seu EU interior. Não sentia por sentir mais nada. Tinha uma visão programada com saídas conectadas por processos transumanistas aplicados em 6G. O homem era um homem do presente. Coisas de gringo Born in Brazil: nem senciente, nem consciente.

Ton Etto et E não encontraram a mulher. Ton, o senhor educado, homem fino, bacana e sincero, um lorde, um grã-fino, não aguentou tanto desgosto. Sentiu gosto de caviar. Olhou pros lados, pro amigo e não pestanejou: cuspiu bonito no meio da rua. Uma  super, longa, babenta cusparada, daquelas do fundo da alma. Totalmente podre.

A escola está aberta por tempo indeterminado. Senhores pais, mães e responsáveis procurem ajudar tuas filhas e filhos nos estudos.

Ton, coitado, ficou no meio do caminho. Pediu um carro e saltou no Pinel. Trocou de City. Mudou o visual, fez correção labial, comprou um animal, se encantou pela medicina tradicional. Coisas da vida, afinal.

Fábio Gomes

7-VII-22

O Homem polvo – foi

Quatro e meia da tarde e Ela entra pela porta, voltando antes da hora, já isso estranho, com olhar esquisito, logo dizendo: Homem polvo morreu!

Morreu! Morreu como?!, respondia querendo algo real.

Era Verdade.

A morte cheirava seus corpos. A notícia ruim acerta logo, em cheio, no meio da testa da gente que nem piscar dá.

Saímos em busca dos falantes dos fatos pra ouvir mais dúvidas, nenhuma ação.

Homem Polvo foi pro mar, segundo as bocas, por voltas das 13 depois de voltar de caíco da traineira. Estava perto do pessoal rindo das brincadeiras da roda e e e e……

Boiou! Boiou longe! Boiou até que os guardas vidas o encontrassem e o trouxessem de volta à praia. Soube que tentaram reanimá-lo.

Não reagiu.

Na dúvida do que faziam com o corpo desse gentleman pescador amigo camarada educado Homem Homem polvo, pedalamos pro hospital geral. Na passagem pelo centro da cidade vimos uma senhora esticada no chão da avenida, em cima da faixa, com a multidão esperando as cenas. No hospital foi que conseguimos avaliar o que imaginávamos logo nas primeiras palavras do atendimento: não sabíamos nada dele [ou algo assim}. Um corpo sem documentos num hospital em plena pandemia indo pro IML constando na ficha “sem identificação”. O Amigo indo pro cemitérios dos Indigentes.

Não! Chegamos na hora. O guarda que encontramos na porta do necrotério, na entrada da pedra, da pedra fria onde sacos tem corpos, agradece por chegarmos pra falar o nome dele. “Vocês são uma luz!”

A sra. Assistente Social abriu o saco pra mostrar um Homem polvo longe daquele homem de risadas tão alegres que zumbirão pra sempre.

Era ele com algodões no nariz.

Anota aí na ficha, debaixo de sem identificação, Renato Vianna Alves, filho de dona Marlene, nascido em Niterói, sua nikiti. Pescador. Brasileiro em situação de rua. Festa de aniversário em 7 de setembro.

Conseguimos uma identificação mas não havia provas documentais, e o que dizíamos deveria ser levado à polícia já que o médico do hospital não havia identificado a causa mortis. Renato foi socorrido pela ambulância do Hospital Geral. Deu entrada sem vida. A informação recebida foi de que o atestado de óbito seria emitido pelo IML com a análise de um legista. Ninguém respondia o “Morreu como?

Na delegacia, a 132ª.

A campainha chama o inspetor que aparece no segundo chamado. Destranca a porta de vidro e vamos nós pra dentro da DP, na maior deprê, pra falar de você, amigo Polvo.

O inspetor rápido liga a máquina, digita as dicas que demos, dá um enter, logo Renato, Marlene, seu pai, duas fotos dele e tal e tal coisa na papelada do Estado. Pronto. Outro prontuário pedimos que aprontes.

Soubemos que seu corpo seguiu pra Macaé. A família deve reclamá-lo. O Estado guarda, aguarda mas não espera uma vida eterna, uma hora enterra.

Por hoje já se foi. Amanhã veremos.

(…)

Um dia sonhei que estava num ônibus lotado indo pelas ruas da cidade numa manhã de trabalho pra geral. Estava sentado num banco do corredor e via os corpos de baixo pra cima nas suas aflições de se manterem seguros porque o motorista não aliviava nem nas curvas. Estamos naquele vai e vem danado quando cai do teto um polvo bem pequeno, do tamanho da palma da mão. Estava molhado. O susto foi pra todos mas ninguém pulou do veículo em movimento. A barulheira veio do vozerio com cada um dizendo uma coisa diferente sobre o animalzinho que ficava ali com os olhos estatelados. Peguei o bichinho quando o motorista resolveu parar o veículo num ponto. Desci e vi duas saídas quando a porta se abriu. A turma que ficou dentro insistia que eu tinha que fazer isso ou aquilo. Olhei e vi o que seria esse ou aquele. Do outro lado da rua o mar crescia na areia da imensa praia e do lado de cá, perto do ponto, das pessoas, dos carros, do pipoqueiro, da banca de jornal, um bueiro de águas pluviais e sua boca de lobo. De dentro uma votação já ocorria com seus lados em pleno debate. O motorista esperava a decisão da assembleia sem falar nada, ou pouca coisa, ou coisa nenhuma. Descansava as pernas e lixava as unhas.

Joga aí mesmo! Era o voto de muitos pedindo que colocasse o polvo na boca do lobo, dentro do bueiro e que sua sorte o levasse de volta à baía. Do outro grupo vinha a certeza de que o polvo deveria ser levado ao mar, tratado com carinho e respeito. Nós não votamos, o polvo e eu. Ficamos olhando e ouvindo o que a massa, a maioria, a participação popular decidiria sobre nossos destinos. Atravessar a rua, andar pela areia e deixar as ondas beijarem meus sapatos ou olhar pra baixo e deslizar o polvo pela escuridão das tubulações públicas.

(…)

De volta ao nosso amigo Homem polvo, encontramos no amanhã uma esperança de dias eternos para nosso amigo camarada. Conseguimos falar com a organização popular do bairro que ele nasceu, cresceu e viveu por toda vida. (Arraial era um descanso passageiro.) A voz companheira de Adriano Felício, nas suas mensagens de carinho, nos confortou: – conheço Renato, Renatinho, amigo de longas datas. Falamos com sua filha e fizemos o que tinha prometido a ele semana antes do seu falecimento. Enviamos a última foto dele para sua mãe. Um belo sorriso de um homem brasileiro que soube conquistar pessoas com sua educação, cultura, sabedoria, bondade, carinho.

– Cadê o pequeno! Leva isso pro pequeno! O pequeno é nosso garoto de 13 anos que se amarrava em chegar perto de Renato, nas manhãs que íamos ao paiol dos pescadores para trabalhar com o mestre Harildo na sua oficina escola naval construindo miniaturas de canoas de boçardas, e falar por trás dele: Hoommeeemmm povoooo! Renato ficava zonzo por uns dois segundos e soltava aquele engraçado sorriso.

Valeu, companheiro!

Na Paz

07/02/21.

Carta do Rio comprimido

Assim consigo esticar minha mão e apanhar o óleo de oliva que estava longe dos meus olhos. Durante muito tempo, dois anos na realidade do mundo real, sinto algo estranho pulular em meus pensamentos sobre o que realmente significa viver sob princípios democráticos, numa república sob a condição de amplo Estado de Direito. Passei anos que somados chegam a décadas e mais décadas num país ensolarado, numa nação dita virtuosa por suas belezas, suas culturas, artes e gentes. Um lugar deste onde se sonha ser feliz para sempre.

Só que não!

Consegui compreender minha mudez ao hino dessa nação. Consegui acalmar minha estranheza diante do intolerável. Somos feito semelhantes à. Nossa arte pede inverossímil. Quantos mundos entre a palma da mão e a planta do pé?

Há dois anos um magnífico homem honrou nossa humana existência ao subir no alto do mundo do templo consumista e se jogar no infinito de nossas memórias. Morreu ali quando seu bilhete de despedida dizia já morto por ter sido impedido de viver. Outro ato político tão forte como do homem de São Borja com seu projétil atravessado ao coração. Este foi sendo empurrado para fora do mundo por homens ávidos pelo poder central, pelo Catete. Aquele não! O Magnífico Reitor foi investigado, acusado, preso, algemado, acorrentado, violentado pelas forças de opressão da República Federativa do Brasil. Tanto verbo pra desfazer a carne. Levado de casa às seis horas da manhã como um meliante desses qualquer que os gambés chegam em seus cafofos no início do dia pra vê se pegam ele no começo do sono porque a noite foi dura pra bandidagem.

Neste sábado (5/X), tive a oportunidade de estar perto do Reitor que se foi naquele voo lá de Floripa ao ouvir de uma pessoa a resposta: sim, era meu irmão. Teu irmão! Nossa! Fiquei milésimos de segundos com esse som transportando tudo que havia visto, lido e falado sobre o Magnifico Reitor nesse tempo todo em que isso me maltratava os nervos e a complacência. Uma delegada agindo com métodos pré civilizatórios num processo fac-símile de um juiz de piso que andou fazendo escola na cambaleante ciência jurídica nacional. Tudo tão estranho que não foi possível ir longe na conversa. Deixamos o silêncio apresentar seu veredicto. Eles erraram e deveriam reconhecer seu erro. Contudo, são parte do aparelho repressor do estado e sendo assim jamais aceitarão a pecha de serem lembrados como homens e mulheres de altos vencimentos e mordomias profissionais que possam cometer sequer equívocos do que dirá erros.

Esse hoje amigo, e assim desejo chamá-lo para sempre, me perguntou quando falávamos ao telefone, na preparação de sua visita ao CapUerj para uma manhã na feira de ciências onde falaria sobre a destruição da Amazônia e da Ciência nacional, se eu gostaria de ficar rico pois não encontrávamos hospedagem na cidade já que o pessoal do rock in rio havia ocupado tudo naquele final de semana. Aí ele disse que poderíamos fazer um ciência in rio e encher a cidade igualmente. Fiquei pensando nessa brincadeira por uns dias até que me veio a coragem de lhe perguntar, pessoalmente, você é parente do Magnifico Reitor Cancellier de Olivo.

Acioli, depois de ouvi-lo, e ficar matutando suas serenas palavras descobri que havia ficado rico. Encontrei em sua sabedoria e na sua luta por ensinar as crianças sobre esse mundo em profundas mudanças e na coragem, honestidade e força do seu irmão um valor além da própria ciência, da própria arte. Encontrei a beleza de sermos humanos, somente.

E que possamos mudar o clima da terra mudando nossa essência para algo verdadeiro não nesses homens e mulheres e crianças já ultraprocessados.

Um forte abraço,

do amigo, Fábio.

Rio, 08/X/19.

Fortes mudanças num planeta maneiro

Um rápido comunicado poderia anunciar quão difícil ficou todo Acordo entre a Vida e a Terra. Uma ciência alopática, uma ciência homeopática, uma ciência social local, regional, global, modelagem de situações horríveis para todas as espécies. O caminhão de mudanças climáticas corre ladeira abaixo sem conhecer a estrada, sem saber lê as placas, nem se a estrada é sem saída, sem fim. Temos que despoluir a economia global. Indo do além da inteligência artificial para o além da consciência natural humana. O que mudou no seu quintal, sítio, aldeia, cidade, país desde que você aqui nasceu? Mudanças quebram regras e muitas ainda impõem perdas irreversíveis. China, USA, EU (Cue) deixam 55% (31-15-9%, respectivamente) dos poluentes na atmosfera terrestre. Quantos % o Cue está interessado em pagar pelo que poluem, para não poluir, para despoluir nossas vidas?

on Climate Geoengineering… nuvens estratosféricas engenhosas, fertilização do mar feita com ferro, painéis solares, o que se puder pensar, propor, produzir pelas Nações para viver os riscos de 4,5º de aumento de temperatura já para o ano 2100. 2020 já se vai. 2º a 2,5º de aumento no nordeste brasileiro com 30% a menos de chuva entre os anos de 1900 e o recém 2012. A temperatura subiu pelo globo em diversas teses. Para breve, ao se apresentar, a geoengenharia traz a não perspectiva de sucesso quando ainda se previa uma moral mitigante nas bases da Rio 92. A poluição fluiu harmônica nesses 40 anos de globalização, de purezas e riquezas e fraquezas e pobrezas que andaram no mesmo quarteirão. “Alto risco de insustentabilidade de nosso sistema socioeconômico” desabafou o físico Paulo Artaxo. Um manguezal detonado na beira da baía da vila que virou cidade que virou capital bem industrial vive no sistema ambiental um alto risco de insustentabilidade. Vive à beira da extinção. Viver os riscos, absorver os impactos, ordenar a ciência, remover as fronteiras políticas. Criar um clima de inteligência natural desta que já está em fase alta de inteligência artificial. O que seria outro sistema socioambiental já vendo que o atual socioeconômico acelerou sua curva de fracasso diante da perspectiva da Terra? O pensamento em questão será fundamental para a permanência do homem no sistema.

O Symposium Internacional Geoengeneering Climate (11-12 jun) na Academia Brasileira de Ciências mostrou ao público, por cientistas convidados e Membros, os agouros das mudanças climáticas e a imensa dificuldade da governança no estágio geopolítico atual. O planeta globalizado engolido, comido, aspirado por uma população de 9,7 bilhões já no meio deste século vivendo novos fenômenos que modificarão o ambiente terrestre. Acompanho o cientista do INPE Jean Pierre Ometto até o elevador para esticar o assunto e perguntar sobre a plantação dos 12 milhões de hectares de florestas. Pois é! A conversa desce e cai na Anphilóquio de Carvalho, procurando um uber, no que gritaram da esquerda. Pega!, pega, pegaram meu celular…O larápio fugiu de bicicleta; os taxistas bufavam de raiva. De volta ao 3 º andar, ABC, por favor.

Do salão do Symposium, nas perguntas, falam sobre o consumo, gasto de energia e de combustíveis fósseis, a produção de todos os poluentes, o plástico, essa modelagem de vida embaladora, rebatem as pesquisas do Pré-sal/CO2 Flow, da geoengenharia solar, da governança, dos Acordos. O que faz a Ciência no tempo onde o espírito da geopolítica incentiva o conflito, o poderio bélico, a sanção econômica, a guerra híbrida, o financeiro, a fome, as misérias. A ciência não deve entrar em recessão. Mesmo sabendo que a nossa capacidade de ação coletiva anda fracassada. Não há instrumento internacional que regularize a geoengenharia, senhoras e senhores. E as mudanças climáticas tomam rumo de uma “crise quase apocalíptica” sem um norte possível somente com os ventos da fotossíntese a aliviar a vista atmosférica.

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Diretas Já!

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Aos fatos e as questões

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Calero foi indicado ao cargo de ministro na cota de quem do PMDB?

Eu não sei. Quem souber, diga.

Calero foi vaiado e entrou em conflito com o público num festival de cinema em Petrópolis.

Ele sabia que teria sempre a pecha de Golpista.

Segundo os fatos, a reunião derradeira de Calero com Geddel foi no dia 28/X.

Agora um detalhe surge como pulga atrás da orelha. O que veio pelas folhas do PIG seis dias depois, exatamente no 03/XI?

Isso: VOLTA, FHC.

[http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/11/1828881-volta-fhc.shtml]

O artigo de Xico Graziano.

Pois bem!

Agora a situação vai se afunilando para todos os lados dos golpistas.

Um dado que surge na casa do óbvio é a impossibilidade dos golpistas se manterem

no Planalto até janeiro de 2019.

Caso caia no Réveillon, sabemos que a coisa vai parar na urna histriônica do Congresso.

E lá, eles e elas podem se convencer ou serem convencidos de que o certo seria um “Me voilá”.

Apareceria no auge das circunstâncias o sociólogo das letras gordurosas. O que seria um risco enorme à Nação dado o retrospecto do dito-cujo. Sem falar na deflagração total de desgosto com os mecanismos republicanos de resolver crises agudas. Vide o vivido com o Colégio Eleitoral de 1985 e a criação da Aliança Democrática com os resultados finais num governo do homem do Maranhão.

Entre as hipóteses, essa seria a pior delas dada a conjuntura politico-partidária do atual Congresso, dividido em frentes parlamentares de imenso poder reacionário e apoiados na estrutura do sempre Centrão.

Qual seria então a terceira e mais palatável hipótese? A renúncia imediata. Ele, o Traíra, sairia de uma vez por toda da vida pública, não seria impugnado pelo TSE, ganharia uma certa repercussão histórica como seu ato – ficando ali próximo ao Jânio Quadros, no verbete renúncia no presidencialismo brasileiro – e o país caminharia para novos ares no executivo, ainda que fiquemos a dever outros vapores do gás da vida no Legislativo e, no secundário, o Judiciário de estrutura fechada, vitalícia, corporativa.

Esses seriam os pontos hoje. Amanhã tudo pode ser melhor.

Aí sim a ala progressista, moderna, antenada da política brasileira poderia ter uma chance forte. Se uma eleição surgisse no horizonte de 90 dias, ao invés dos epopéicos 700 dias do pleito de 2018, o Brasil ganharia gás na História Universal.

No final das contas ficaria o aprendizado: Presidente Traíra, Governo Golpista, Estado Demente.

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Bandeira dois

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