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A fome não é passageira

setembro 18, 2022

A fome fica agarrada na parede do estômago com tanta força que nem as curvas mais rápidas das estradas mais velozes podem fazê-la cair fora dali. A fome tonteia o forte homem com tamanha precisão que suas pernas se dobram nos joelhos quebrados pelo vento da agonia. Um mundo inteiro escurece quando a fome bate à porta querendo entrar de qualquer jeito mas não deseja ser indelicada a ponto de arrombar a fechadura. Ela chega rápido, anda todo dia, toda hora, todo segundo, jamais se fazendo ausente. A fome seca os lábios; desnutre a alma. Olha aquela criança ali embaixo da marquise, sentada na calçada, comendo com os olhos os comensais do restaurante cheio de figuras de fino trato. Não fino tato. A criança com fome é o substrato da humana miséria humana que se repete por séculos e séculos no planeta cercado de presunçosas sociedades auto idolatradas como inteligentes por seres civilizados. Pois sim! A mulher, mãe da criança com fome, sentada na calçada, de saia enrolada e máscara na boca, pede a todos, pelo amor de deus, uma ajuda quem puder, sem força, sem voz, disputando com microfones, motores e fones, a atenção dos bípedes. A calçada é larga e o braço é curto, a mão pequena, e os passantes da multidão conseguem, com o apressar do passo, passar incólume pelo ato insano. A insanidade anda por toda parte, em inúmeros círculos, com as portas abertas permitindo o acesso irrestrito de pessoas de todas as classes. Seria possível uma super explosão de bondade humana que transformasse todo o planeta Terra no maravilhoso planeta Paz? Duvidas!
Crianças, mães, mulheres, homens, moços, velhos se servem com sua dor pela cidade dolorosa na tentativa de outro dia além do dia de hoje que quando começa já se torna longo e quando termina já passou tanto tempo que não dá pra lembrar como foi o começo. Não há era uma vez. Felizes os bens alimentados. Eles dizem: a vida passa rápido.

From → Direitos Humanos

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