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Carta do Rio comprimido

outubro 16, 2019

Assim consigo esticar minha mão e apanhar o óleo de oliva que estava longe dos meus olhos. Durante muito tempo, dois anos na realidade do mundo real, sinto algo estranho pulular em meus pensamentos sobre o que realmente significa viver sob princípios democráticos, numa república sob a condição de amplo Estado de Direito. Passei anos que somados chegam a décadas e mais décadas num país ensolarado, numa nação dita virtuosa por suas belezas, suas culturas, artes e gentes. Um lugar deste onde se sonha ser feliz para sempre.

Só que não!

Consegui compreender minha mudez ao hino dessa nação. Consegui acalmar minha estranheza diante do intolerável. Somos feito semelhantes à. Nossa arte pede inverossímil. Quantos mundos entre a palma da mão e a planta do pé?

Há dois anos um magnífico homem honrou nossa humana existência ao subir no alto do mundo do templo consumista e se jogar no infinito de nossas memórias. Morreu ali quando seu bilhete de despedida dizia já morto por ter sido impedido de viver. Outro ato político tão forte como do homem de São Borja com seu projétil atravessado ao coração. Este foi sendo empurrado para fora do mundo por homens ávidos pelo poder central, pelo Catete. Aquele não! O Magnífico Reitor foi investigado, acusado, preso, algemado, acorrentado, violentado pelas forças de opressão da República Federativa do Brasil. Tanto verbo pra desfazer a carne. Levado de casa às seis horas da manhã como um meliante desses qualquer que os gambés chegam em seus cafofos no início do dia pra vê se pegam ele no começo do sono porque a noite foi dura pra bandidagem.

Neste sábado (5/X), tive a oportunidade de estar perto do Reitor que se foi naquele voo lá de Floripa ao ouvir de uma pessoa a resposta: sim, era meu irmão. Teu irmão! Nossa! Fiquei milésimos de segundos com esse som transportando tudo que havia visto, lido e falado sobre o Magnifico Reitor nesse tempo todo em que isso me maltratava os nervos e a complacência. Uma delegada agindo com métodos pré civilizatórios num processo fac-símile de um juiz de piso que andou fazendo escola na cambaleante ciência jurídica nacional. Tudo tão estranho que não foi possível ir longe na conversa. Deixamos o silêncio apresentar seu veredicto. Eles erraram e deveriam reconhecer seu erro. Contudo, são parte do aparelho repressor do estado e sendo assim jamais aceitarão a pecha de serem lembrados como homens e mulheres de altos vencimentos e mordomias profissionais que possam cometer sequer equívocos do que dirá erros.

Esse hoje amigo, e assim desejo chamá-lo para sempre, me perguntou quando falávamos ao telefone, na preparação de sua visita ao CapUerj para uma manhã na feira de ciências onde falaria sobre a destruição da Amazônia e da Ciência nacional, se eu gostaria de ficar rico pois não encontrávamos hospedagem na cidade já que o pessoal do rock in rio havia ocupado tudo naquele final de semana. Aí ele disse que poderíamos fazer um ciência in rio e encher a cidade igualmente. Fiquei pensando nessa brincadeira por uns dias até que me veio a coragem de lhe perguntar, pessoalmente, você é parente do Magnifico Reitor Cancellier de Olivo.

Acioli, depois de ouvi-lo, e ficar matutando suas serenas palavras descobri que havia ficado rico. Encontrei em sua sabedoria e na sua luta por ensinar as crianças sobre esse mundo em profundas mudanças e na coragem, honestidade e força do seu irmão um valor além da própria ciência, da própria arte. Encontrei a beleza de sermos humanos, somente.

E que possamos mudar o clima da terra mudando nossa essência para algo verdadeiro não nesses homens e mulheres e crianças já ultraprocessados.

Um forte abraço,

do amigo, Fábio.

Rio, 08/X/19.

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